domingo, 28 de fevereiro de 2021

m̶o̶d̶e̶r̶n̶a̶

Dois gatinhos miam na varanda de trás.

Lua cheia em Peixes.

O cigarro aumentou 50 centavos. A passagem mais.

Eu estou desempregada.

Eu estou sem você.

Eu não tenho nada...

"Não tinha parado de fumar?", minha irmã pergunta.

Nunca tinha pensado em parar de fumar. Aí parei.

Entrei pra yoga, falo com a lua.

Eu sou previsível.

Mas não tenho você...

Tanto sobre você.

Ah, eu?

Comprei só mais esse outro maço.

Não quero ser uma casca.

Não quero ser como você.

Ah, eu...

Não to fingindo, eu tô sempre sentindo o pulso de todos daqui.

E quando eles dizem "pare" eu consigo imaginar, mas quando pedem calma 

é difícil pausar.

É que mesmo sorrindo eu também sei que nós somos só objetos.

Presos no concreto, enxergando profundo em prédios, procurando afeto, beijando o teto, querendo ser completo, correndo reto, respirando forte como eu faço agora

Porque prefiro surto ao tédio.

E quando chegamos nesse ponto eu sempre penso "fuja" mas eu nunca durmo

E você se dói.

Mas entenda, dói em todo mundo. 

Acontece que eu não fujo.

Inclusive acho que por isso eu tô sempre caindo e não chego no fundo.

Não era pra ter orgulho?

Tá mas é inevitável

Andar nas bordas e não chegar perto do limite do absurdo.

O que é tecno vai dominar tudo.

Sentir não era especial?

Pena que é interminável...

Eu sempre quis te deixar mudo

Você e umas outras voz, só para ser normal

Chega ser inenarrável

Eu quis enxergar o incrível mas foi só tão obtuso e me deixou em pó

Mesmo sem entender ainda

O poço acabou ali

A realidade em pó-

de ser moldada

Pra pensarmos que um dia, 

entre tantos sistemas

Tudo nesse poema

saudade e alegria

Tudo, infinitamente

Ousou existir.

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