quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

s̶e̶g̶r̶e̶d̶o̶

20/03/2020
segunda tentativa de desabafar escrevendo.
Não tive forças pra escrever no papel.
Não tenho forças pra fazer absolutamente nada. Queria conseguir dormir o dia inteiro. Acordar, dizer à minha mãe que estou bem e dormir. Acordar, fumar um cigarro e dormir.
Eu juro que essa vida me parece interessante.
Não tenho nada a dizer.
Chego na terapia e sempre tenho o que falar sobre mim mesma.
Mas ouvindo meus próprios pensamentos vejo como tudo é inválido.
As coisas não importam, Nicolas.
Não acredito que consegui escrever seu nome.
Seu nome é lindo. Não acredito que to escrevendo pra você.
Me seguro tanto pra não conversar com você.
Isso não é como os textos que eu fazia quando a gente se conheceu. Não é aquela coisa melosa e chata que eu escrevia sabendo que você nunca leria. Exceto quando eu escrevia algo e julgava verdadeiramente bom, então te mandava. Depois de um tempo parei de ter vergonha de você. Não conseguia esconder nada de você e desisti porque seria melhor assim. De fato, foi.
Engraçado é que você não ligava muito pros poemas de amor, acho que não acreditava. Mas uma vez escrevi durante um surto depressivo tentando fazer metáforas e analogias com o que tava sentindo. Aquele formigamento no cérebro, a sensação de mil bolinhas estourando ao mesmo tempo, a sensação de que uma hora uma bolinha vai bater na outra e sua mente vai explodir. Enfim, te mostrei e você havia me perguntado recentemente "era sobre mim ou sobre ele?!", mas era sobre mim mesma. Você lembrava as palavras que eu tinha usado, as cores que citei no texto... acho que isso diz um pouco (muito) sobre a gente. Sobre o que realmente éramos juntos (e só a gente sabe, você me dizia. E agora só eu sei).
Tenho essa mesma sensação de surto agora. Só que o tempo inteiro.
Desde o dia 15 de fevereiro.
Fazem 1 mês e cinco dias hoje.
Não consigo pensar em nada e penso em tudo ao mesmo tempo. Não tenho foco, não consigo seguir sequer a linha de raciocínio do que queria estar escrevendo agora.
Queria dizer que nada faz sentido sem você aqui.
Queria dizer sobre todas as vezes que estive sozinha e desejei que você estivesse me observando. Que você soubesse sobre mim e soubesse que eu estava fazendo algo encantador. Queria me sentir encantadora pra você a todo tempo.
A rotina é esquisita e maléfica, mas queria dizer sobre todas as vezes que dividimos a mesma cama enquanto fazíamos coisas diferentes. Você jogava, fumava, ria de coisas aleatórias. Eu estudava, lia, fumava meu cigarro, dormia. Até que certas coisas estivessem cumpridas e nosso corpo se procurasse.
Caralho, isso tudo tá tão IDIOTA.
Tenho me segurado tanto pra não te escrever. Mas só sei fazer assim. Meu maior querer agora não é destinar palavras pra mais ninguém que não seja você.
Estou satisfeita com as lembranças que tenho de você. Sei que desfrutei o máximo que eu pude da sua companhia, sei que tentei te ajudar e observei atenta aos seus sinais. Sei que estive ali pra você, mesmo quando você me machucou ( - me culpo por não ter ido embora nesse momento. Penso se você melhoraria se eu tivesse tido forças para te deixar).
Mas apesar de saber tudo isso, sinto falta do seu corpo.
Sinto falta de cada milímetro de você. Quantas malditas vezes passei meus dedos sobre seu corpo suavemente memorizando cada parte dele ("o que cê tá tentando fazer aí?", tu perguntava e eu respondia que não era nada, mas eu sei que você sabia o que era). Sabia que uma hora você ia embora, Nicolas. Sabia que passaria longos anos sem você e ia querer ter essas lembranças. Mas nunca esperei que fosse dessa forma.
Nesse momento, se estivesse me ouvindo, você ia gargalhar perguntando ironicamente "não esperava? Tá de sacanagem?". Eu sei, eu sei. Te entendo cada vez mais agora. Sinto uma dor tão grande que ouso a comparar com aquela que você estava sentindo quando decidiu tirar a sua vida. Me vejo com hábitos que você tinha e só agora entendo COMO você tinha. Como passar dias trancado, no escuro, sem falar com ninguém. Com as pessoas que vivem com você, sua família. Como o álcool se torna a principal droga, sem que a gente perceba. E quando percebemos não importa mais. Bom, são várias situações que agora entendo melhor e sei que não é nada surpreendente que tenha terminado assim.
Mas a verdade é que sinto tanto sua falta e não posso acreditar que estou sozinha no mundo agora. Estou há todas essas palavras tentando dizer que você era minha razão. Que nada do que eu faço, ouço ou vejo faz sentido se eu não posso dividir com você. Que você fazia de um dia simples, uma crônica única. Que você era tão autêntico que até quem te odiava precisa admitir isso agora. Você era demais.
Nesse ponto lembro que fui usada e manipulada até o fim... e volto pro ciclo de que saber isso não vale a pena se não posso te chamar de filha da puta na sua cara. Se não posso imaginar que você tá no seu quarto, mesmo que com outra garota. O psicólogo disse que não faz sentido te julgar, e eu digo que nada faz sentido...

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