segunda-feira, 22 de março de 2021

N̶I̶R̶V̶A̶N̶A̶

Quando eu comecei a ler mulheres, já adulta, passei a entender melhor o que eu mesma sinto e como coloco isso em palavras. Toda aquela questão que a gente carrega... competição materna, ausência paterna. Somos intensas, puras. Mas ninguém tá interessado em ouvir sobre isso. As pessoas querem falar delas mesmas, com razão. Então isso vira só um pensamento. Hoje eu entendo melhor o que é ser uma mulher. Estou reescrevendo isso aqui hoje e queria pontuar esse sentimento estranho que me ocorreu na onda de LSD outro dia. Algo sobre ser uma mulher da lua e sobre o que sobra quando tudo acaba. Nossa atração pela noite. A atração feminina na luz do luar funciona de forma diferente da masculina. Não é poder, é só desejo. Mas, quando o poder e o desejo acabam, sobram dois seres humanos. Quando dois seres humanos crescem, sobram só duas crianças grandes. Ainda queremos as mesmas coisas, nos fazem falta as mesmas coisas. Naquele dia eram: exaltação ou aprovação e simples atenção ou reconhecimento, respectivamente. Eu sou o primeiro caso. Parece não haver diferença nenhuma, lendo aqui agora. Espero continuar entendendo do que se trata. Mas, enfim, quando tudo acaba... Tudo mesmo. As cortinas fecham. Não tem mais porque fingir, não tem mais porque se importar, não tem o que comer nem o que falar. Quando você entende do que se trata. Existir. Não é sobre o destino. Mas o caminho é tão irônico. Te faz rir. A graça é você. Você acaba. Não tem mais graça. Mas a gargalhada continua... O que resta são vídeos de gatinho. Cigarro, drogas. O circo que chegou na cidade, o filme da temporada. A menina nova que chegou na cidade. O formato que as nuvens ficam, um tombo que você vê alguém levando, qualquer piada nos programas que você acha graça. Mas quando se tira sua família - o que inclui seus traumas; sua posição social; sua raça - os comerciais e as novelas - o que inclui toda a idéia da indústria cinematográfica e cultura pop no geral - o que você acha que sobra? Bom, tem uma faísca aí dentro. Aqui também. Acho que sei um pouco sobre a minha natureza no momento. Ela é amorosa, acima de tudo. Me sinto feliz por isso. É dinâmica e intensa. Isso é o que eu sei sobre mim. Porra, me sinto uma criança. Mas isso realmente parece o que tinha antes de pessoas começarem a enfiar merda na minha cabeça.. só parece. Se é o que eu me lembro já não deve ser. Mas é o que eu sinto. Porra, sei lá. Quando se tira seu transtorno de personalidade, o que você acha que sobra? Não sei muito bem. Me parece pouco... muito pouco. Pra descobrir preciso mudar certas coisas em mim mesma, principalmente o que me faz desconcentrar do que queria dizer nesse texto. Aprender as virtudes de capricórnio, bla bla. Logo eu. Naquele dia eu soube que tudo o que não dizemos na verdade já está dito. Está dado pela história, pela sociedade, pela arte; no passado presente e futuro e por nós mesmos de uma forma tão... boba. Me senti assim, boba. Como eu posso não ter visto antes? Me senti atrasada. Como se todos a minha volta já soubessem de algo que eu não sabia. Senti falta de estar de igual pra igual com o Ni*****, com a Anna, com o João... Essas pessoas, que são as mais parecidas comigo que eu conheci. Eles, porque sei que eles sempre entenderam isso, e sei que é esse ponto brilhante o que nos faz diferentes da massa. E também sou admirada por intelecto. Isso faz as pessoas entenderem situações, fisionomias, emoções, consequências, o presente como um todo. O presente é o Todo. Então é tudo o que eu mais quero, sempre quis, e quero tanto agora... E pra tê-lo eu preciso ouvir o João, que gosta de falar sobre o Buk. E me ensina tanto sobre as respostas da vida, o Universo e tudo mais. E a Anna, que é meu exemplo de força, maturidade, amor (empatia, afeto) e respeito. Bom, preciso entender o que me aproxima dessas pessoas. E volto a me sentir uma criança. Só sei fazer arte quando sou criança. Não sobrou muito de tantas crianças que conheci. Algumas respiram por aparelhos. Algumas com tanta dificuldade que pedem minha ajuda e quando eu vou salvá-las do afogamento descubro que era só uma desculpa pra encostar com a boca na minha, e respirar nem é tão importante assim pra elas. Eu tive o privilégio de poder preservar mais do que deveria da minha criança. É o que chamam de karma. Também é o que chamam de privilégio. E é. Logo, óbvio que não seria tão fácil. Óbvio que ia haver Jung, e Freud. E Froid (risos). Óbvio que ia haver Big Brother (o programa e o que vigia), a lei da inércia e muito açúcar ou sal. Isso é o que conforta as pessoas inteligentes, como o L ou o Saiki. Entende, Luisa. No fim é isso. No fim não precisava de um reconhecimento, uma aprovação. No fim não precisava se desesperar porque quer tanto ser especial. Eu sou especial. E preciso parar de falar em terceira pessoa, porque isso é um pouco doentio. Eu já to falando sozinha fazendo isso aqui. E amo isso. Amo tanto, tanto. Por aí. E por isso me fascina quando tudo acaba. O que sobra(?), o que fica(?), eu não sinto e eu preciso sentir o tempo todo...

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