É estranho estar afundada em um sentimento tão denso de novo.
Denso como não era contigo.
Porque é justamente pelo contrário.
Eu posso sentir a distância se condensando… posso sentir as pessoas te puxando
E te levando em um barquinho.
Enquanto eu nadei metade do oceano pra te salvar.
(eu nem sei se você estava realmente se afogando)
Mas eu não tenho nada…
(eu não posso te culpar)
As pessoas do barquinho tem primeiros-socorros e um motor.
Eu só tenho dois braços fracos - que te agarrariam com firmeza, mas precisariam da ajuda dos seus pra ir até a praia deserta que eu te levaria.
Eu sei que agora, deitado no barco e ainda ofegante, você pensa nessa praia.
Talvez pense até nos coqueiros
no mar agitado
na composição do céu durante a tarde.
Mas você não sabe o caminho
já te fizeram respiração boca à boca três vezes,
não tem mais água nos seus pulmões
você já pode voltar a enchê-los com fumaça.
(você volta à normalidade)
E eu estou no meio do oceano
me afogando em algo que não é água.
Eu senti o seu resgate e não parei de nadar.
Acho que na minha cabeça doente eu tinha esperanças de que você escolhesse ficar
Me esperar
Quem sabe até dar uma ou duas braçadas ao meu encontro.
Seria muito arriscado.
E trabalhoso.
É o que você pensa agora dentro do barquinho estável e seguro…
Sem saber se ser terrivelmente carregado por mim até a praia valeria a pena.
(beberíamos uns litros de água salgada)
(já bebemos coisas piores)
Te digo que sim.
Meu corpo morto foi levado até lá - como se destino existisse -
E há o pôr-do-sol mais lindo do mundo. E a temperatura da água… os animais exóticos…
Eu ainda sinto você se afastando.
Mas morro aqui na praia.
Você morre com a dúvida.
(2017 ou 18. que ironia o título e o tema.)
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